Silêncio

Publicado em 04/09/2015

Quando uma pessoa deseja pensar na vida, é comum buscar o silêncio que reina nos templos, pelo menos quando não há nenhum culto sendo realizado, ou, então, procurar um local isolado, longe do barulho e da verborragia que normalmente nos cerca.

Também há silêncio nos hospitais, em muitos dos quais é exposto aquele quadro clássico de uma enfermeira com o dedo sobre os lábios, exortando-nos claramente a fechar o bico.

O silêncio que quero focalizar nesta crônica, contudo, é de outro gênero. Ultimamente, temos visto sua manifestação inúmeras vezes, consubstanciado na expressão: "atendendo a recomendação do meu advogado, permanecerei em silêncio".

No grande espetáculo de pirotecnia política em que se transformaram as CPI, assistimos nesta semana que se encerra a uma demonstração pública dessa modalidade constrangedora de silêncio. Diversos parlamentares deslocaram-se até o local onde encontram-se presos réus do "petrolão", gastando tubos de dinheiro às custas do Erário, para ouvir deles, reiteradamente, essa opção pelo silêncio.

Diz o velho provérbio que quem cala consente, mas não é isso que diz a lei, perante a qual todos são inocentes até prova em contrário. Estamos então, meus caros leitores, diante do famoso "silêncio dos inocentes". Advogados competentes, espertos e bem pagos, sabem muito bem que responder a perguntas embaraçosas somente pode trazer prejuízo aos seus clientes.

Veja-se, por exemplo o que aconteceu quando um deles resolveu falar. Questionado se pretendia assinar um acordo de "delação premiada", fez uma analogia doméstica citando suas filhas, afirmando que: “se elas [minhas filhas] brigassem, eu perguntasse quem começou, e uma dedurasse a outra, eu talvez brigasse mais com quem dedurou do que com aquela que fez o fato”. Alertado por seu advogado que se encontrava ao lado, mudou imediatamente o discurso, dizendo: "Primeiro, para alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar, e isso não ocorre nesta situação".

Pois não é que depois de tudo isso, além das provas que certamente existem no processo, pois ninguém é preso de graça, houve parlamentares que o elogiassem, quase desculpando-se por ele estar sendo submetido a essa execração pública. Só mesmo aqui, na terra da impunidade, para assistir a uma cena dessas.

Outro caso de rompimento do silêncio ocorreu durante uma acareação entre dois delatores, quando um ex-diretor da Petrobrás, envolvido até o pescoço no escândalo, acusou o outro de mentiroso, mas, "seguindo orientação do seu advogado", nada mais disse.

Acho que começo a entender o espírito da lei... é melhor mesmo que se calem!

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