Oportunismo
Publicado em 31/05/2018
Todo mundo é oportunista, mas nem todos sabem sê-lo com oportunidade. (Maurice Chapelan, escritor e jornalista francês)
Nem bem acabou a greve dos caminhoneiros, que parou o País, os sindicatos dos petroleiros já anunciaram uma greve de advertência de 72 horas e, o maior deles, ligado à CUT petista, foi um pouco mais além, declarando greve por tempo indeterminado.
Diferentemente dos caminhoneiros, a maioria deles sequer sindicalizados, que apenas estavam lutando pela sobrevivência, como ficou claro durante as negociações com o governo Temer, as reivindicações dos petroleiros não decorrem de nenhuma motivação salarial, mas de razões políticas, pedindo, entre outras, a demissão de Pedro Parente, presidente da Petrobras.
Não nutro simpatia, ou tão pouco antipatia, por Pedro, que não é meu parente nem nada, mas o fato é que o sujeito é um bom administrador, com credibilidade internacional e conseguiu reverter a situação falimentar em que os governos petistas deixaram aquela estatal. Suspeito, então, que esse ódio todo seja nutrido por aqueles que perderam sua boquinha.
Aproveitando o embalo, o Senado Federal aprovou uma CPI para investigar a política de preços da Petrobras, numa proposta de iniciativa da senadora comunista Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Na sua justificativa, a parlamentar diz que no governo Lula, os aumentos dos combustíveis eram anuais, enquanto na gestão Temer, foram 229 variações de preços do diesel, álcool e gasolina.
A informação da senadora deve estar correta, mas faltou dizer que foi exatamente essa política de preços dos petistas que ocasionou a descapitalização da Petrobras na ordem de bilhões de dólares, com perda de sua capacidade de investimentos. Ou as empresas petrolíferas implementam políticas de preços que acompanhem os preços internacionais do petróleo e variações cambiais, ou vão para o buraco, exatamente como aconteceu com a Petrobras.
No Brasil, o custo de prospecção do petróleo é infinitamente mais elevado do que na Venezuela, principalmente se falarmos do pré sal. Não dá então para aplicar aqui uma receita similar à do país vizinho, pois nem lá isso deu certo.
Digamos, então, que a CPI proposta pela senadora comunista seja uma questão ideológica da nossa esquerda anacrônica. A canalhice do oportunismo, entretanto, é que as assinaturas necessárias para a instalação dessa CPI inoportuna só foram obtidas porque estamos em ano eleitoral e suas excelëncias viram aí uma tremenda oportunidade para granjearem seus 15 minutos de glória na TV Senado.
Durante as negociações da greve dos caminhoneiros, Márcio França, pré candidato ao governo paulista, aproveitando-se das trapalhadas do governo federal, completamente perdido depois de ver resultar inócuo seu acordo com as centrais sindicais da categoria que, como visto, representa apenas a parcela tutelada por empresas de transportes e efetivamente não a representa, posou de herói no programa dominical do Datena, dizendo ter descoberto o grupo que comandava o movimento pelo whatsapp.
Como rapidamente se constatou, esse era apenas um dos grupos, de um movimento acéfalo e horizontalizado, mas o esperto França obteve o que queria. Resta ver se conseguirá sair da faixa de 1% que ocupa nas últimas pesquisas do Ibope.
A escassez no abastecimento, gerada pela paralização dos transportes, colocou em funcionamento a inclemente lei da oferta e procura, desencadeando uma alta generalizada de preços. Isso foi inevitável, mas o que temos visto são aumentos abusivos e injustificados, perpetrados por agentes econômicos gananciosos e insensíveis ao sofrimento do povão.
Digo povão, porque os mais afetados são os mais pobres, como sempre. Aqueles que não podem esperar a normalização do mercado, pois são obrigados a comprar pela manhã o que vão comer no almoço.
Registrei aqui apenas alguns oportunismos gerados pela greve dos caminhoneiros, mas muitos outros podem ser encontrados, porque os brasileiros adoram seguir a cartilha do maior dos canalhas do oportunismo: Nicolau Maquiavel.
Tudo seria suportável, se o movimento dos caminhoneiros fosse o estopim para uma revolução popular que implantasse uma democracia efetiva no Brasil, mas para isso é imprescindível que a massa seja organizada a fim de aproveitar a oportunidade das eleições que se aproximam.
Temos que renovar o Congresso com representantes legítimos do povo e não de seus próprios interesses e da meia dúzia de patrocinadores das suas ricas campanhas.
Além da divulgação da ficha dos candidatos para não eleger picareta, é preciso um cuidado extra, porque o sistema está viciado e a concentração de votos num único famoso ajuda a eleição dos donos dos partidos, ou seja, os Renans, os Jucás, os Barbalhos, etc. Ainda que o Tiririca tenha individualmente se revelado uma grata surpresa, acabou ajudando a eleger muito lixo.
Temos que fiscalizar a apuração dos votos para que a eleição não seja fraudada como a última, feita secretamente por um grupo de apenas 23 pessoas, comandadas pelo advogado do partido vencedor e implementado por uma empresa de informática venezuelana.
Se isso não ocorrer, esse movimento terá o mesmo efeito daquele de 2015, que acabou trocando seis por meia dúzia, e todo o sacrifício terá sido em vão.