Marolas

Publicado em 24/08/2015

Em 4 de outubro de 2008, referindo-se à crise financeira que pipocava pelo mundo, comandada pelo "estouro da bolha imobiliária" nos EUA, o então presidente Lula referiu-se a ela com um comentário que viria a ocupar lugar de destaque entre suas frases de efeito:

Lá (nos EUA), ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar.

Nessa linha de pensamento, abandonou-se de vez a austeridade monetária, parte da "herança maldita" deixada por FHC e Pedro Malan, mas que garantira o controle da inflação, que por aqui sempre foi representada por um dragão monstruoso.

Abriu-se pleno espaço para "desenvolvimentistas", como Guido Mantega e a então ministra Dilma Rousseff, que logo seria alçada ao papel de “mãe do PAC”, preparando terreno para sua futura eleição à presidência da República.

Incentivou-se o consumo com redução a zero da alíquota do IPI para automóveis, depois estendida à chamada “linha branca”, e outras desonerações fiscais, reduzindo-se a autonomia do Banco Central.

Tudo isso, bem azeitado por uma propaganda ufanista, parecia na época uma tirada de gênio, capaz de salvar o Brasil da crise mundial, instalada com raízes profundas, principalmente na Europa.

Gosto de iniciar com esses antecedentes históricos, porque é lá que estão as causas, as quais precisam ser muito bem compreendidas, para que se possa combater as consequências.

Agora há pouco, escutei um “plim-plim” no celular. Era uma dessas “Breaking News” de um dos sites de notícias internacionais que assino, dando conta de que o índice Dow Jones, da bolsa de valores de Nova Iorque, chegou a apenas um ponto para se igualar à queda registrada em 2008, exatamente aquele ano fatídico das “marolinhas”. Lembrando que, enquanto escrevo, a Bolsa novaiorquina ainda não fechou o pregão.

Os dois grandes motivos dessa queda, não apenas em N. Iorque, mas praticamente em todos os mercados ao redor do mundo, tem duas razões bem definidas: desaquecimento da economia chinesa e perspectiva de aumento na taxa de juros pelo FED, o Banco Central norte-americano.

Este cenário é péssimo para o Brasil, principalmente porque atravessamos também a crise política mais grave desde o “impeachment” de Collor.

Anos de fisiologismo nos legaram um Congresso Nacional absolutamente ineficiente para colaborar com o Poder Executivo, garantindo as medidas de austeridade que garantam a reversão do déficit público, com eliminação das desonerações fiscais do passado e adoção de um rígido controle monetário.

Como austeridade significa impopularidade, não tenho uma boa previsão do nosso futuro, mas tenho rezado!

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