Dupla Homenagem

Publicado em 25/08/2015

Quando ainda trabalhava em Santos, quis certa vez visitar a tumba de José Bonifácio de Andrada e Silva, o "Patriarca da Independência", que sabia localizar-se naquela cidade. Saí com meu amigo Akiyoshi em busca do monumento, o qual nem ele, que morava havia décadas em Santos, sabia onde ficava.

Acabamos localizando o Pantheon dos Andradas, constatando que já passáramos na sua frente inúmeras vezes, pois ficava no caminho dos restaurantes onde costumávamos almoçar. Aí está ele, o prédio da extrema direita, na fotografia abaixo:

Panteão dos Andradas

Não é de admirar que não tivéssemos dado conta da sua localização! Observem que não há nenhuma bandeira do Brasil, nenhuma guarda de honra, nada além daquela plaquinha ridícula. Fosse a tumba de um dos heróis da independência dos Estados Unidos, ou até mesmo de um herói bolivariano, certamente o destaque do lugar seria muito mais pomposo.

Arabesco

Hoje é o "dia do soldado", em que se comemora o nascimento de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Não fosse pela bravura desse grande herói, possivelmente o Brasil teria se fragmentado em inúmeros pequenos países, como ocorreu na América Hispânica. Mas quem se lembra?

Resolvi, então, fazer uma dupla homenagem no meu Blog — a Caxias e ao meu pai, o jornalista José Mendes Ribeiro, com este artigo de sua lavra, publicado na edição de "O Loreninha" de 27-8-1966.

Arabesco

Caxias

escreveu: José Mendes Ribeiro

Todas as homenagens póstumas, maiores que sejam, serão sempre pequenas se comparadas aos épicos feitos do herói que viveu pelo ideal pátrio! Assim foi Caxias — seu espírito, ainda presente, defende nossa soberania. Dele, mais do que qualquer narrativa, são os traços varonis que sua passagem gravou na História, revelando a todos a sua radiosa personalidade, como os dos episódios abaixo, que transcrevo num misto de admiração e respeito:

Vencedor do renhido combate de Ponche Verde, que forçou a paz no Sul, em 1845, firmada pelos Chefes dos Farrapos em Parougose, Caxias interveio e conseguiu que o Governo Imperial concedesse anistia geral para os revoltosos. Sabendo, entretanto, que o vigário de Bagé iria celebrar o tradicional “Te Deum” pelo sucesso das armas imperiais, Caxias fez-lhe ver que um conflito fratricida não resulta em vitória ou derrota, mas luto da Pátria pelos filhos tombados, de um e de outro lado: “Reverendo! Diga antes uma Missa de Requien, pelas almas de nossos irmãos brasileiros mortos em combate!”

Reticências

Se o espírito de Marengo guiou as Águias Napoleônicas, Itororó deu ao Brasil o comando vitorioso na Tríplice Aliança. O gesto viril de Caxias, à frente de seus comandados, no clangor da batalha e quando a sorte ainda não tinha dono, foi decisivo. Ao bradar: “Sigam-me os que forem brasileiros!”, o bravo militar, transfigurado em herói, fez mais do que cruzar a ponte considerada intransponível — naquele momento, esquecido de um “presente” fugaz, marchou resoluto na reverência dos pósteros, verdadeiro e único caminho para a imortalidade!

Reticências

Naqueles idos de 1866, face às inquietantes notícias provindas do Paraguai, o Governo do Império deu a Caxias o comando-em-chefe do Exército. Zacarias de Góis e Vasconcelos, presidente do Conselho, defendeu a indicação de Caxias, embora fosse liberal e o ilustre militar conservador. Entretanto, coerente com sua formação partidária, Zacarias resolve renunciar. Ao tomar conhecimento de tal propósito, Caxias discordou energicamente, exclamando: “Minha espada não tem partidos!”

Esses fatos, ocorridos na vida de um homem, traçam-lhe o magnífico perfil — feroz no combate, magnânimo após a refrega; firme em seus princípios ideológicos, respeita os de seus adversários políticos. Eis o homem, o soldado, o herói — nos três, nenhuma ambição pessoal!

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