Depressão
Publicado em 02/09/2015
A primeira vez que tive contato com alguém acometido por depressão foi há cerca de 30 anos atrás. Era um amigo, já falecido, e lembro-me de como fiquei impressionado pelo estado de prostração em que o encontrei — praticamente um moribundo. Sua condição era ainda mais acentuada pelo contraste com a pessoa alegre e bem humorada que sempre fora.
Com a ajuda da família, o suporte dos amigos e o tratamento com um bom psiquiatra, meu amigo conseguiu superar a terrível doença e nunca mais voltou a ser acometido por ela, pelo menos não de forma tão aguda.
Anos depois, quando se referia àquele período negro de sua vida, ele sempre dizia que, se existisse um inferno, ele não poderia ser pior do que uma crise depressiva. Uma tristeza profunda, inexplicável. A pessoa quer sair, mas não consegue. Sem ajuda, pode até atentar contra a própria vida para acabar com o sofrimento.
Essa doença entrou novamente em pauta faz pouco tempo, sob a forma da assustadora "Síndrome do Pânico". Há poucos dias, Ricardo Boechat, âncora do “Jornal da Band”, confessou que um surto depressivo teria sido o motivo de sua ausência em vários programas.
Algumas causas apontadas são a morte de alguém próximo, uma desilusão amorosa, a perda de fama e prestígio, muito comum entre artistas, desportistas e políticos, uma doença grave, a perda do emprego, a velhice, enfim, são inúmeras as situações apontadas como causadoras do estado depressivo.
Existem, contudo, pessoas que passam por tudo isso e, embora possam ficar abaladas, não entram em depressão e, até mesmo, tiram do revés a força necessária para superá-lo. Essas situações são, portanto, apenas catalisadores da crise, mas qual seria então sua causa?
Freud comparava nosso subconsciente ao sótão de uma casa, onde vamos guardando tudo o que é imprestável, feio ou incômodo. Se não for limpo de tempos em tempos, acaba “transbordando”, por assim dizer.
Acho que é aí que reside a causa do aumento nos casos de depressão que estamos vivenciando atualmente. Na pressa dos tempos modernos, as pessoas não tem tempo para resolver satisfatoriamente seus problemas, e eles vão se acumulando… até “transbordarem" numa crise depressiva.
Catalisadores não faltam: a crise ambiental do planeta, evidenciada pelo aquecimento global que já parece irreversível, a incerteza na economia chinesa, capitaneada por um governo pouco transparente e aqui, em terras brasileiras, a violência cotidiana exibida em tempo real pelas câmeras de segurança e um desgoverno que não consegue se articular politicamente para enfrentar essa e tantas outras crises que nos assolam diariamente.
É preciso, mais que nunca, estar atento para a limpeza no nosso subconsciente, enfrentando nossos problemas mal resolvidos, com coragem e determinação.