A grandeza de Benedito

Publicado em 02/10/2015

O nome latino Benedictus gerou, em português, duas formas: Benedito e Bento. Quando se trata de nomear Papas, optou-se pela segunda, talvez de conotação mais piedosa. É a esse Benedito que me refiro no título desta crônica, porque trata-se de Bento XVI.

O jornalista argentino Eduardo Febbro, que trabalha na redação da Radio France Internationale, escreveu um artigo cuja tradução pode ser encontrada na Internet, publicado sob o título "A história secreta da renúncia de Bento XVI", dias depois da renúncia, ocorrida em 11/02/2013. Dele transcrevo o seguinte trecho:

Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar (...), depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

Não sei qual era o tamanho efetivo da corrupção na Cúria Romana, mas é certo que existia, e não era pequena. Crescia nas entranhas do Vaticano como atestam sucessivos escândalos financeiros, desde a ordem de prisão emitida contra o norte-americano Paul Marcinkus e o suicídio de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, na década de 1980, até o não menos tenebroso caso dos padres pedófilos.

Qual teria sido, então, o gesto de grandeza que menciono? Simples: sentindo-se incapaz de efetuar a necessária limpeza, Bento XVI renunciou!

Com sua renúncia, abriu caminho para a eleição de Francisco, que tem mostrado a que veio. Sua primeira providência, não por acaso, foi exatamente o desmantelamento da poderosa Cúria Romana, principal fonte de todos os desmazelos.

De Benedito, quase não se houve mais falar, embora tenha sido sua atitude corajosa que permitiu a ascensão de Francisco e sua vitória sobre a corrupção, usando apenas o cajado da humildade.

É exemplo que deveria ser seguido, por mais fascinante que seja o poder, pelos que querem ser verdadeiramente grandes.

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