Não há flores neste Jardim

Publicado em 20/06/2017

No último dia do mês das noivas, tomou posse o novo Ministro da Justiça do governo Temer, Torquato Jardim, em substituição a Osmar Serraglio.

Seria apenas mais uma troca dos titulares de pastas ministeriais, num País habituado a vê-las como mera moeda de troca política, não fosse ocorrer no pipocar de uma crise institucional sem precedentes na nossa história republicana, deflagrada com a divulgação da gravação de um diálogo nada republicano entre um bem-sucedido empresário do ramo frigorífico, açougueiro de origem, e ninguém menos do que o próprio Presidente da República.

Neste cenário de crise, a mudança levantou a suspeita de que seria uma tentativa desesperada do governo de barrar eventuais investigações, colocando na chefia do Ministério da Justiça e Segurança Pública alguém com mais pulso para controlar a Polícia Federal. Além disso, o novo Ministro, rábula especialista em Direito Eleitoral, com uma longa carreira de doze anos no Tribunal Superior Eleitoral, poderia, de quebra, ajudar também no azeitamento de uma pizza no julgamento da chapa Dilma/Temer, que se aproximava.

A coisa não saiu totalmente como planejado pois, logo de cara, Serraglio, a quem ofereceram, como prêmio de consolação, o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União, recusou a oferta e resolveu retomar seu mandato de deputado federal, dando um chute no traseiro de seu suplente, Rodrigo Rocha Loures, enrolado até o pescoço no "imbroglio Joesley", o qual, perdendo o direito ao fôro privilegiado, acabou sendo preso alguns dias depois.

Durante minhas caminhadas matinais, costumo ir ouvindo os podcasts da CBN para inteirar-me das notícias, pois há muito tempo deixei de ler jornais e assisto muito pouco a TV aberta.

Hoje, entre outras, ouvi a entrevista de Torquato Jardim, feita logo após ele assumir o cargo. Ouvindo dele próprio sua linha de pensamento, acho que as suspeitas tem tudo para ser verdadeiras e sua nomeação, infelizmente, desenha-se como mais uma tentativa de aparelhamento das instituições do Estado, para evitar a punição dos poderosos.

Alguns dias mais tarde, ocorreu o malfadado julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE, outro órgão devidamente aparelhado, e deu no que deu, ou seja, a absolvição dos réus, contra o voto do relator, mesmo diante das evidências das provas por ele exaustivamente demonstradas. O resultado, aliás, já fora previsto pela imprensa, com dias de antecedência.

Não sei se Torquato teve, de fato, alguma influência junto ao TSE para a prolatação da lamentável sentença absolutória, nem se conseguirá mesmo interferir nas investigações da PF, mas não antevejo um futuro florido neste jardim.

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